quinta-feira, 18 de agosto de 2016

DESNÍVEIS DO ENSINO COMPROMETEM METAS NA EDUCAÇÃO


A aferição dos níveis de excelência da Educação brasileira sinaliza que os indicadores de ensino ainda estão fora das metas. Mesmo com a dificuldade de ditar parâmetros universais num país com realidades heterogêneas, é inegável que o setor vai mal. Há positivas exceções nesse perfil — por exemplo, nos últimos anos houve avanços expressivos no 5º ano do ensino fundamental, segundo resultados das avaliações nacionais. Mas essas mesmas medições revelam que as escolas vão mal no ensino médio, e o desempenho de nossas universidades é pífio nos rankings internacionais.

Os atuais níveis de (baixa) excelência comprometem a meta, estabelecida no MEC, de até 2021 — ou seja, em parcos cinco anos — o ensino brasileiro atingir um patamar de qualidade verificado em nações desenvolvidas. Nessa escalada contra o futuro da Educação, há diversos níveis de desesperança. Um dos mais graves está registrado num estudo dos pesquisadores José Francisco Soares e Victor Maia Senna Delgado, que captaram uma tendência preocupante no ensino brasileiro, mesmo se levando em conta avanços obtidos até aqui.

Se há melhoras visíveis no ensino, elas não estão ocorrendo no ritmo adequado. Pior: os avanços se desenvolvem de forma desigual, de tal maneira que estudantes de estrato social mais baixo têm maiores dificuldades de aprender que aqueles de famílias de renda mais alta. Essa relação é conhecida: a bagagem intelectual de alunos de nível socioeconômico mais elevado não se forma somente na escola, ao passo que, para os mais pobres, o espaço de aprendizado em geral se resume aos bancos escolares. Mas, ainda que seja uma realidade óbvia, ações do poder público para mudá-la são inconsistentes, quando não inexistentes.

O quadro pintado pelos pesquisadores é sombrio. A distância entre a capacidade de aprendizado de estudantes mais favorecidos socialmente e aqueles de famílias mais carentes é tão grande que, a se manter o atual ritmo, o Brasil levará mais de duas décadas para igualar o desempenho de países mais avançados.

Além da inércia do poder público diante das discrepâncias, outras forças jogam contra a busca pela universalização da excelência. O corporativismo de entidades de representação do magistério, por exemplo, é fonte permanente de blindagem contra mudanças para melhor.

Desse sindicalismo emergem ações contra a meritocracia, embargos à aferição de conhecimentos dos docentes, deflagração indiscriminada de greves e inapetência por lutas que busquem a melhoria da qualidade do ensino. Ambos — leniência do Estado e irresponsabilidade sindical — são faces da mesma moeda, e contribuem para manter a Educação em patamares indesejáveis.


Fonte: Editorial de O Globo de 18/08/2016

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