terça-feira, 24 de novembro de 2015

SOBRE ISLAMISMO E CRISTIANISMO

"Peter Demant afirma que a palavra de Deus, no Cristianismo e no judaísmo, “não é mais lida literalmente, mas simbolicamente” e que “eventualmente tal solução acomodará também a maioria muçulmana” (“Islã e Democracia”, Tendências/Debates,23/11). Gostaria que a afirmação estivesse correta. No entanto, há mais de 13 séculos que o mundo está à espera de tal reforma do islã, que até agora não aconteceu. O otimismo de Demant, então, não tem nenhum fundamento histórico, e muito sangue—inclusive e especialmente muçulmano— ainda será derramado em nome da mais nova religião monoteísta que continua com a sua leitura literal do Alcorão."                                                                                                                                                    
                                                                                                                               Markus Michael
                                                                                                                         ( São Paulo, SP)


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O excerto acima extrai da sessão "Painel do Leitor" do jornal Folha de São Paulo. Nele, o leitor contesta o artigo de Peter Demant, que afirma que o Islamismo precisa passar por uma espécie de "Renascimento" para deixar de acomodar atitudes radicais e extremadas de intolerância que conduzem à práticas de terror como as perpetradas recentemente em Paris e no Mali. O autor do artigo afirma que a leitura dos textos sagrados, tanto no Cristianismo quanto no Judaísmo, deixou de ser literal e é realizada de maneira simbólica por estas religiões. Segundo o autor, o Islã deveria adotar a mesma forma de interpretação, o que levaria a uma mudança comportamental e atitudinal de todos os participantes ou seguidores deste ismo.

Tal opinião em relação ao Islamismo e, no que diz respeito a sua tradição, ao me ver, parece utópica. O radicalismo maometano jamais poderá ser "domesticado" e, tampouco, os versos do Corão tratados como alegorias inócuas pelos que nele creem. Como bem disse o leitor, treze séculos de história se passaram e não houve mudança alguma na forma como o mundo muçulmano interpreta as suas escrituras corânicas. O radicalismo vai continuar e o fanatismo extremado também, porque os seguidores de Mohamed levam o corão ao pé da letra e isso não tem volta, tampouco haverá uma Reforma ou Renascimento deste povo em relação ao seu livro.

Outro aspecto que cabe ser ressaltado aqui é que a maioria dos cristãos (quando digo cristãos,  refiro-me aos que de fato creem na Bíblia como infalível e inerrante Palavra  Deus) não interpretam as Escrituras de forma simbólica, como declara Peter Demant. Eles creem e interpretam-na literalmente. Esse pensamento que atribui aspectos simbólicos, alegóricos ou mesmo mitológicos ao texto sagrado cheira a revisionismo racionalista e à influência da Alta Crítica, que ataca a inspiração das Escrituras desconsiderando a sua inerrância e inspiração. Rudolf Bultman, um dos proponentes desta escola, afirmava que os Evangelhos estavam eivados de mitos e imprecisões e, portanto, não deveriam ser considerados infalíveis. Essa é uma característica do revisionismo relativizado que adentrou às igrejas e institutos teológicos e precipitou toda uma geração ao caos e à alienação no tocante a fé e aos valores cristãos. 

Na França, onde o secularismo tomou contornos de religião, o ceticismo e a relativização do sagrado avançam a passos bem largos. A intolerância à fé cristã se tornou o ponto alto desta sociedade, que toma como obsoletos a moral cristã e descambam para toda sorte de absurdidades e abominações. Ao passo que rejeitam a fé ancestral e a mitologizam, abrem-se para o multiculturalismo e para uma cultura hedonística cujo alvo é apenas satisfação mundana. Os frutos amargos estão sendo colhidos, que busquem consolo nos altares do Racionalismo.

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