sexta-feira, 6 de novembro de 2015

SECA, CALOR E TEMPESTADE

Por HENRIQUE GOMES BATISTA


Pesquisa em 40 países revela que brasileiros são os mais preocupados com aquecimento



Calor. Praia cheia em Ipanema, no Rio, em pleno inverno: aumento da temperatura seria um dos sinais mais evidentes


WASHINGTON- Os brasileiros são os mais preocupados com o clima entre as populações de 40 países. Uma pesquisa realizada com 45 mil pessoas em todos os continentes pela Pew Research Center mostra que 86% da população nacional acredita que a mudança climática “é um problema muito sério”. O percentual é muito acima da média global, de 54%, e superior à preocupação dos dois países que mais poluem no mundo: Estados Unidos (45%) e China (18%, o pior percentual da pesquisa). O dado brasileiro fica acima de nações desenvolvidas, como Alemanha (55%), Reino Unido (41%), Canadá (51%) e Japão (45%). O resultado nacional ainda se sobressai na comparação de outras nações em desenvolvimento, como Turquia (37%), Rússia (33%) e Argentina (59%).

O Brasil também se destaca em outros pontos do levantamento chamado “A preocupação global sobre a mudança climática — suporte para a limitação das emissões”, divulgado ontem e realizado entre março e maio deste ano. Noventa por cento dos entrevistados no país acham que as mudanças climáticas já afetam as pessoas, contra 51% da média global. E 99% dos brasileiros afirmam que impactos serão sentidos dentro dos próximos cinco anos, contra 79% do resultado mundial.

A pesquisa aponta que 89% dos brasileiros também acreditam que as pessoas terão de mudar aspectos de suas vidas por causa das mudanças climáticas, contra 67% da média mundial. Apenas 22% acreditam que a tecnologia pode resolver este problema sem a necessidade de grandes alterações. Mesmo nos EUA, um país conhecido por suas inovações tecnológicas, 66% pensam que será necessário haver mudanças de estilo de vida.

PRESSÃO PARA AUMENTAR METAS Na pontuação feita pelo instituto americano, levando em conta diversos aspectos do levantamento, o Brasil tem a maior nota (11,42), contra a média de 9,93 e o piso de 8,66, registrado em Israel. Os dois países mais poluidores do mundo têm nota menor, bem abaixo da média global: EUA, com 8,78, e China, com 9,11. “Este forte suporte público interno, bem como a pressão internacional, provavelmente contribuiu para recente promessa da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, para cortar as emissões de carbono do país em 37% até 2025”, afirma a pesquisa.

— No geral, o levantamento revela um alto grau de preocupação global com as mudanças climáticas 

— conta Richard Wike, diretor de Atitudes Globais de Pesquisa da Pew Research Center. — A maior parte da população de todos os 40 países pesquisados considera que este é um problema sério. E as preocupações são especialmente elevadas na América Latina. Uma razão pela qual nós podemos ver níveis mais altos de preocupação geral em alguns países emergentes e em desenvolvimento é que as pessoas desses países são mais propensas do que as de nações mais ricas a acreditar que as alterações climáticas terão um impacto pessoal sobre elas.

Por outro lado, a imensa maioria da população global apoia a redução das emissões de gases do efeito estufa: 78% dos entrevistados concordam com estas restrições, o que pode contribuir para a assinatura de um acordo global na Conferência do Clima no fim do mês, em Paris.

Na maior parte dos países, mais de 70% dos entrevistados apoiam o corte da liberação de poluentes. A medida é menos popular na Turquia (56%). No Brasil, ela conta com o apoio de 88% das pessoas; pouco abaixo do visto na Coreia do Sul e na Itália (89%), onde estas medidas têm mais suporte.

A seca é o maior temor da mudança climática. Quarenta e quatro por cento da média mundial dos pesquisados citam este problema, que é mais preocupante na América Latina e na África (59% dos entrevistados de cada continente). Na sequência, há o risco de grandes tempestades, temidas por 35% do total dos entrevistados e por 34% dos moradores da Ásia. Catorze por cento acreditam que o aumento da temperatura é uma grande ameaça, e no Oriente Médio este percentual é de 19%. E apenas 6% da média global se preocupam com o aumento do nível dos mares, embora este tema tire o sono de 17% dos americanos.

O instituto de pesquisa, um dos mais conceituados dos EUA, espera que estes dados possam servir de base para os políticos que deverão decidir o futuro do acordo climático em Paris. Para o Pew Research, “há um consenso global de que a mudança climática é um desafio significativo”.


Fonte: O Globo edição de 06/11/2015


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